Polaridade

26-07-2013 17:26

Beleza multicor

 

Glória a Deus pelas coisas salpicadas

Pelos céus de duas cores qual vaca malhada

Pelos sinais rosados que pontilham as trutas a nadar

Cascatas de castanhas acabadas de assar

Asas de tentilhão

Paisagens divididas e recortadas – cerca, pousio e arado

E todos os ofícios, apetrechos, aparelhos e preparos

Todas as coisas contrárias, originais, parcas, estranhas

O que é instável, sardento (quem sabe como?)

Depressa, devagar, doce, amargo, brilhante, fosco

Ele gera aquele cuja beleza resiste à mudança

Que seja louvado

  Gerard M. Hopkins

                     

Este poema é um hino à vida e grandiosa polaridade do Universo. O Cosmos é, de facto, uma dança de pares estreitamente associados: Céu/Terra; coração/razão; sombra/luz; tristeza/alegria; noite/dia; vida/morte…

Estar vivo é ter consciência de que, como observa Eric G. Wilson, no seu livro “Contra a felicidade”, não se pode experienciar felicidade sem melancolia, nem esperar que o sol brilhe o tempo todo.

Esta polaridade do Universo é um dos alicerces do pensamento chinês: um pensamento não dualista baseado na relação. Para ele não existe separação, mas sim um processo, uma polaridade entre dois elementos que não podem existir um sem o outro.

Lembrarmo-nos que o inverno mental é uma parte inevitável da nossa existência e que os raios de sol só aparecem após a noite, ajuda-nos a colorir o amanhã.