Polaridade
Beleza multicor
Glória a Deus pelas coisas salpicadas
Pelos céus de duas cores qual vaca malhada
Pelos sinais rosados que pontilham as trutas a nadar
Cascatas de castanhas acabadas de assar
Asas de tentilhão
Paisagens divididas e recortadas – cerca, pousio e arado
E todos os ofícios, apetrechos, aparelhos e preparos
Todas as coisas contrárias, originais, parcas, estranhas
O que é instável, sardento (quem sabe como?)
Depressa, devagar, doce, amargo, brilhante, fosco
Ele gera aquele cuja beleza resiste à mudança
Que seja louvado
Gerard M. Hopkins
Este poema é um hino à vida e grandiosa polaridade do Universo. O Cosmos é, de facto, uma dança de pares estreitamente associados: Céu/Terra; coração/razão; sombra/luz; tristeza/alegria; noite/dia; vida/morte…
Estar vivo é ter consciência de que, como observa Eric G. Wilson, no seu livro “Contra a felicidade”, não se pode experienciar felicidade sem melancolia, nem esperar que o sol brilhe o tempo todo.
Esta polaridade do Universo é um dos alicerces do pensamento chinês: um pensamento não dualista baseado na relação. Para ele não existe separação, mas sim um processo, uma polaridade entre dois elementos que não podem existir um sem o outro.
Lembrarmo-nos que o inverno mental é uma parte inevitável da nossa existência e que os raios de sol só aparecem após a noite, ajuda-nos a colorir o amanhã.