O rei vai nu

31-07-2013 16:06

 

 

Numa experiência feita na Universidade Carnegie-Mellon (EUA) por Solomon Ash, nos anos 50, foi pedido aos estudantes para compararem o tamanho de algumas linhas traçadas numa folha de papel: Maiores? Mais pequenas? Uma tarefa que uma criança de 5 anos faria sem dificuldade. Mas antes de os alunos decidirem, era-lhes dada a resposta de um grupo de 7 colegas. Em certos casos, o grupo dava uma resposta unânime, mas falsa. Para surpresa dos investigadores três quartos dos alunos escolheram, pelo menos uma vez, a mesma resposta do grupo, embora ela fosse claramente falsa. Solomon Ash morreu em 1996 e até ao fim da sua vida procurou entender o que poderia explicar esta incrível abdicação dos seres humanos perante as más escolhas dos seus semelhantes. David Servan-Schreiber dá-nos outro exemplo: o de Pedro que está numa sala de espera e repara no fumo que sai do sistema de ventilação. Pedro olha para as pessoas à sua volta, mas parece que ninguém nota e ele retoma a sua leitura. No entanto, sente um cheiro a queimado. Levanta, novamente, a cabeça e não vê nenhuma reacção (cada um lê tranquilamente a sua revista). Então, Pedro convence-se de que o cheiro não é assim tão forte e volta à sua leitura. Nesta experiência, os companheiros de Pedro eram actores pagos para não reagirem. Foram necessários 10 minutos para que Pedro saísse da sala e se consciencializasse de que algo não estava bem.

Será que um grupo nos pode fazer acreditar no que quer que seja? Fazer acreditar que um fogo que nos ameaça, não existe? O que é que explica este comportamento?

Parte da resposta estará no funcionamento do nosso cérebro: Quando uma pessoa apreende aquilo que o grupo escolheu de forma unânime, é a própria percepção do objecto que se modifica. Tudo se passa como se o sujeito da experiência deixasse de ver a realidade, modificada pelas opiniões dos outros. A linha que o grupo disser que é maior, assim será vista por cada indivíduo. E se, por acaso, o indivíduo tomar a decisão de se exprimir contra a conclusão unânime do grupo, é a região do medo, do seu cérebro emocional, que será activada. Como se soubesse que é perigoso afirmar a verdade perante um grupo que não a vê.

Não somos, de facto, totalmente “donos” daquilo que percebemos. Mas será essa consciência que nos alerta para uma responsabilidade acrescida: A de defender a “verdade” que existe para além dos conformismos. Só a coragem e integridade podem vencer o medo de rejeição dos outros.

Cada vez mais, necessitamos desta coragem para orientar a nossa vida de uma forma diferente.

 
Fonte: Le cerveau de l´independance, David Servan-Schreiber