Alargar a nossa consciência individual e coletiva

28-07-2013 14:10

 

 

“Para dominar o universo natural, o homem ocidental separou-se dele. Esta atitude heróica, agressiva e dominadora em relação ao ambiente é bem ilustrada, por exemplo, pela arte dos jardins clássicos em que a natureza é submetida, deformada, violada, reduzida e talhada de modo a tornar-se inteiramente concordante com uma geometria e um desenho impostos pelo homem. Numa tal perspectiva, rigorosamente antropocêntrica, as formas e os motivos naturais, não elaborados pela mão do homem, e cuja misteriosa complexidade não reflecte a de nenhum cérebro, adquirem automaticamente algo de ameaçador.”

Simon Leys
 
 

“Brincamos com forças obscuras que não podem ser capturadas com os nomes que lhes damos, como crianças brincando com o fogo, e por um momento é como se toda  a energia tivesse permanecido dormente na totalidade dos objectos até agora, e eis que chegamos para aplicá-la na nossa vida fugaz e nas suas exigências. Mas, repetidas vezes ao longo de milénios, essas forças livram-se dos seus nomes e erguem-se como uma classe oprimida contra os seus pequenos senhores, ou nem mesmo contra eles – elas simplesmente erguem-se, e as diversas culturas deslizam dos ombros da Terra, que se torna novamente grande, vasta e sozinha com os seus oceanos, árvores  e estrelas.

O que significa o facto de transformarmos a superfície mais externa da Terra, embelezarmos as flores e os prados e extrairmos carvão e minerais da sua crosta, de recebermos os frutos das árvores como se fossem destinados a nós, se nos lembrarmos pelo menos de uma única hora em que a natureza agiu além de nós, além das nossas esperanças, além da nossa vida, com essa sublime nobreza e indiferença que preenchem todos os seus gestos? Ela não sabe nada de nós. E, não importa o que os seres humanos tenham realizado, não há um deles que haja alcançado tamanha grandeza a ponto de a natureza dividir com ele a sua dor ou unir-se a ele no seu júbilo. “

Rainer Maria Rilke

imagens tiradas da internet

 

Com medo do poder da natureza e por avidez optámos por dominá-la. As consequências estão à vista: poluição, acidentes climáticos, desflorestação, crises alimentares, doenças…

Tudo nos convoca para uma mudança, para uma reconciliação.

Em vez de nos consagrarmos unicamente à busca de soluções técnicas para poluir menos, devemos reflectir profundamente na nossa interdependência numa mesma “CASA”. A mudança, para a qual somos convocados, exige um alargamento da nossa consciência individual e colectiva. Como nos diz Marie Romanens: “Uma escuta atenta de si e do outro, um questionamento profundo dos nossos actos, da nossa forma de ser numa relação, de nos alimentarmos, de consumirmos e ocuparmos o lazer”.

Marie Romanens interpela-nos com os seguintes convites:

- Recusar a lógica da separação ao investir em laços mais humanos com os nossos próximos, estrangeiros e natureza.

- Reconhecer a natureza como o espelho das nossas almas – imergirmo-nos regularmente nela, para nos sentirmos plenamente (re)ligados e responsáveis pelo seu futuro.

- Descobrir o prazer de ser – investir em domínios que solicitem a nossa criatividade, singularidade.

- Potencializar, o mais possível, os nossos talentos na família, trabalho, amigos ou associações.

Convites a “viver de uma forma mais humana, mais responsável, mais alegre”, com um sentido que, por vezes, tanta falta nos faz.