CNV - Prática Espiritual

01-08-2013 10:47

 

 

“A espiritualidade abre-nos para uma comunhão amorosa com todas as coisas e para uma atitude de respeito e de reverência face a todos os seres. Só assim podemos reintegrar-nos no todo, sentirmo-nos parte da comunidade de vida e acolhidos como companhia na grande aventura cósmica e planetária.”

Marshall Rosenberg

imagem tirada da internet

 

Segundo Marshall Rosenberg a Comunicação Não Violenta (Comunicação Consciente) é uma prática espiritual. Aquilo que nos traz maior alegria é religar-nos à vida contribuindo para o nosso bem-estar e o dos outros. Conectar-nos implica expressar com honestidade aquilo que está vivo em nós, num determinado momento – significa dar-se. Dar-se é uma manifestação de amor.

É interessante observar que, em cada cultura, saudamo-nos com a expressão: Como estás? Que pergunta importante, esta! Que presente imenso ser capaz de saber, a cada instante, aquilo que está vivo em nós.

Teremos consciência da importância desta questão? Do quanto nela está o nosso verdadeiro encontro? Exprimimos, com honestidade, aquilo que está vivo em nós naquele momento? Estamos atentos à resposta? Estamos atentos à vida, de cada instante, daquele que cumprimentamos?

Como estás?

A esta pergunta tão premente, geralmente, respondemos que “está tudo bem” quase mecanicamente. Vivemos apressados, não paramos para nos olhar, olhos nos olhos, na empatia do coração e trocamos saudações sem disponibilizar o nosso tempo para o verdadeiro encontro. Ou talvez respondamos que está tudo bem porque não queremos incomodar, ou ainda porque não queremos ou não temos tempo para prosseguir com a conversa.

É a consciência de cada minuto que podemos ganhar (e não perder) que devemos ter quando nos encontramos. E de como podemos ajudar a consciencializar quem nos rodeia de tudo o que nele está vivo quando perguntamos: Como estás? Porque também há quem não responda desta forma. Porque também há quem pare porque tem uma necessidade imensa de ser ouvido, mas depois não tem quem o escute. Não tem quem o escute com o coração, quem preste atenção não apenas ao que diz, mas ao seu ser na totalidade, ao que é, ao que sente. E diz: "Bem e tu?"

Lembremo-nos das palavras de Ricardo Ros "O meu compromisso com a vida consiste em fazer com que o meu tempo, o tempo que me está reservado, reverta nas pessoas que amo através do tempo que lhes dedico. Perder o tempo é desperdiçar a minha capacidade de dar-me aos demais. Quando dou o meu tempo aos demais, quando lhes dedico o meu tempo, o meu tempo é infinito e a minha vida perdura ao longo do tempo."

Quando queremos estabelecer uma verdadeira ligação, um verdadeiro encontro há que "ganhar o tempo".

Talvez, também, a seguir à pergunta "como estás?" devêssemos pedir, como sugere Robert Holden no seu livro Be Happy, que nos falem dos seus "títulos espirituais", as suas verdadeiras notícias e não apenas conversa de circunstância: o que está a acontecer de importante nas suas vidas naquele momento, aquilo que tem significado e que esteja a acontecer, os desafios e aquilo que é maravilhoso.

A pergunta "como estás?" exige uma resposta com tempo e consciência do presente enorme que é o de expressar com honestidade aquilo que está vivo em nós naquele momento e exige a capacidade de escutar com tempo e de coração aberto o que o outro nos quer transmitir.

Uma pergunta que nos remete para as bases espirituais da comunicação não violenta. Desenvolver a benevolência relacional e a consciência de que o nosso bem-estar está ligado ao do outro. Conectarmo-nos, reintegrarmo-nos, religarmo-nos… Qual é a forma que escolhemos de nos ligarmos aos outros seres humanos?