Escolhas

25-07-2013 17:31

 

 

Muitas das nossas escolhas não nos parecem verdadeiras escolhas, mas “deveres”, algo a que não podemos escapar. Esta perspectiva faz-nos sentir um maior peso nos deveres, obrigações, que se nos deparam (e não são poucos...). Porque se uma parte de nós age por dever, por sacrifício, porque “tem de ser” e se sente constrangida ou culpabilizada, essa parte devora toda a nossa energia e vitalidade acabando, mais cedo ou mais tarde, por se vingar, manifestando-se através da ira, revolta, zanga…

 

Mas é possível mudar a perspectiva e, consequentemente, mudar substancialmente a forma como vivemos os “deveres” do nosso quotidiano.

 

Sim, é possível fazer escolhas motivadas unicamente pelo nosso desejo de contribuir para a vida e não por culpa, medo, vergonha, dever ou obrigação. E isso muda radicalmente a qualidade dos nossos dias. Como nos diz Marshall Rosenberg “quando temos consciência do propósito enriquecedor para a vida que está por detrás de uma ação até o trabalho mais duro contém um elemento de prazer”.

 

Substituir “Tenho de fazer” por “Escolho fazer” é a sua proposta para a mudança. Ei-la:

 

1.     Escreva num papel todas as coisas que diz a si mesmo que tem de fazer, qualquer actividade que deteste, mas faz assim mesmo porque percebe que não tem escolha.

 

2.     Depois de completar a lista, reconheça claramente para si mesmo que está a fazer essas coisas porque escolheu fazê-las, não porque tem de fazê-las. Coloque a palavra “Escolho” à frente de cada item que listou.

 

3.     Complete a frase “Escolho… porque quero…”

 

A cada escolha que fizer, esteja consciente da necessidade que atende.

 

Ao explorar a frase “Escolho… porque quero…” podemos descobrir que há valores importantes por detrás das escolhas que fazemos. Quando temos consciência do propósito enriquecedor para a vida que está por trás da acção que fazemos, quando a energia que nos motiva é a de tornar a vida melhor para nós e para os outros, então até o trabalho mais aborrecido contém um elemento de prazer.

 

É natural que sintamos algumas dificuldades na realização deste exercício. É difícil, muitas vezes, identificar as necessidades que efetivamente estão por detrás de cada escolha. Mas elas estão lá e a cada uma correspondem valores importantes (dinheiro, aprovação, evitar punições, evitar a culpa, evitar a vergonha…). O que é mais importante para si? Um dos exemplos que Marshall Rosenberg dá, ao fazer este exercício, é o de um item da sua lista: Levar as crianças de carro à escola (que ele sentia como uma obrigação). Quando examinou o motivo por detrás daquela tarefa apreciou os benefícios que os filhos tinham em frequentar aquela escola mais longínqua do que a escola do bairro que não estava em harmonia com os seus valores educacionais. Esta consciencialização permitiu-lhe continuar a levar as crianças com uma energia bem diferente.

 

Substituir uma linguagem que nega a possibilidade de escolha, por uma em que tomamos consciência dos verdadeiros valores que estão por detrás de cada escolha, é substituir a renúncia à vida em nós mesmos, substituir uma mentalidade robô que nos separa da nossa própria existência, pela integração plena na vida que há em nós, nos outros e em tudo o que nos rodeia.