Elena Lasida e o sentido do outro

15-09-2013 12:51

 

“Onde está a vida? O que faz viver? Qual é a fonte da vida? A vida não é apenas material, a satisfação das necessidades físicas, mas também o seu sentido.”

Elena Lasida

 

Elena Lasida convida-nos a “habitar”, a viver a economia. O sentido do outroapresenta-nos a economia como “um lugar onde se constrói a sociedade”, “uma fonte de riqueza relacional”, “um fator de mediação social”. Um livro em que revisitamos, de facto, a representação que temos da economia.

Neste novo olhar, destaco três interpelações:

- A experiência do limite como aspeto fundamental da vida humana e para a qual a economia nos remete: “ Uma experiência que nos recorda que o ser humano está marcado pela sua finitude, que somos seres radicalmente incompletos e que a privação faz parte integrante da nossa humanidade. Ora é graças a essa finitude que o ser humano se torna capaz de uma certa in finitude. É graças ao limite que o ser humano pode experimentar a transcendência."

- A criação como experiência de transcendência, só possível porque existe o limite, a fronteira. Só possível porque existe uma falta. “A criação não seria possível sem o limite: em situação de plenitude, de perfeição e de completude, não há lugar para a emergência do radicalmente novo.”

A criação que, para dar lugar ao radicalmente novo, apela ao empenho e ao desapego, ao controlo e ao largar, à certeza e à incerteza. A criação que “requer mais o assombro do que a explicação, a capacidade de surpresa do que a verificação.”

- A necessidade de passadores de vida, passadores de sentido. Passadores para atravessar fronteiras, passadores que nos ajudam a deslocarmo-nos, passadores que nos libertem e tornam possível o sonho do passageiro (o passador é “aquele que, no meio da escuridão, consegue discernir um clarão, quando ninguém mais o vê”).

“O passador que estabelece laços, que abre o caminho, que diz que a travessia é possível. Alguém que acompanha a partir do seu próprio limite, não para que o imitem, mas para nos transmitir a vontade e a força de fazer a nossa própria travessia.”

Estas interpelações levam-nos a uma economia cuja finalidade não é a de suprimir uma falta, mas pô-la em movimento, não é de tornar as pessoas autossuficientes, mas interdependentes, criando um valor que se mede, sobretudo, pelos laços que cria. Um lugar em que se constrói a identidade individual e coletiva.

“Uma identidade que se constrói a partir da cultura de origem de cada um, é certo, mas que é alimentada e enriquecida por todas as culturas com que aquele se pôde “encontrar”.

Porque… “o ser de cada um está semeado do ser dos outros, desses outros que se atravessaram no caminho de cada um."