Discrição, uma alegria silenciosa

27-12-2013 16:30

 

 

“Fazer-se discreto é criar, é dar, é amar.”

 

imagem da net

 

Discrição: a arte de desaparecer. Desaparecer momentaneamente para se abandonar ao aparecimento do outro. Apagamo-nos para que um outro mundo surja – o mundo do outro e não o meu.

Pierre Zaoui, autor de “La Discretion”, apresenta-nos esta virtude como uma experiência de ligeiro desaparecimento, não no sentido de morte, mas no sentido de deixar de se mostrar; um momento de colocar em suspenso o nosso desejo de afirmação.

Vivemos num mundo de egos sobredimensionados e autocentrados em que deixamos pouco espaço ao outro. Numa sociedade que valoriza “o parecer ser” a discrição surge-nos como uma forma feliz de resistência.

Mas atenção, não se trata de “vivamos felizes, vivamos escondidos”. Há momentos nas nossas existências que exigem que se fale, que nos manifestemos, que nos pronunciemos, momentos em que aparecer é uma necessidade. Faz parte da coragem, da inserção, da participação numa vida pública, amorosa, social, democrática.

Há, enfim, momentos para a discrição e momentos para não o ser, mas todos devíamos experimentar estes momentos de invisibilidade, momentos em que nos recolhemos e simultaneamente nos oferecemos a possibilidade de sair de nós próprios, de nos desprendermos do ego, de apreciar o outro tal como é.  Não é dissolver-se no meio dos outros, mas aceitar, por um momento, observá-los, afirmar a presença e a beleza objetiva daqueles que amamos.

“Vemos, de facto, o outro, os seus olhos, os seus gestos, as suas mãos, tudo aquilo que nos escapa habitualmente e que, quando amamos, é uma felicidade que apura a nossa sensibilidade. É a alegria de deixar todo o espaço ao outro. A alegria de entrar docemente no seu mundo, de o deixar SER, de aproveitar a sua presença sem qualquer tipo de sedução.” É uma alegria silenciosa.