Aprendamos a arte de esperar

22-09-2013 14:17

 

 

“Quando as coisas acontecem depressa demais, ninguém pode ter a certeza de nada, de coisa nenhuma, nem de si mesmo.”

Milan Kundera, O livro do Riso e do Esquecimento

 

“Lembro-me de uma história engraçada que ouvi contar à pintora Lourdes de Castro. Quando em certos dias o telefone tocava repetidamente e os prazos apertavam e tudo, de repente, pedia uma velocidade maior do que aquela que é sensato dar, ela e o Manuel Zimbro, seu marido, começavam a andar teatralmente em câmara lenta pelo espaço da casa. E divergindo dessa forma com a aceleração, riam-se, ganhavam tempo e distanciamento crítico, buscavam outros modos, voltavam a sentir-se próximos, refaziam-se.”

José Tolentino Mendonça, Revista Única 25/5/13

 

 

“Estás com pressa? Então, faz devagar, pois só farás uma vez!” eis um conselho que todos deveriam escutar nos dias que correm. Vivemos num mundo de agitação e velocidade em que atropelamos as maneiras corretas de proceder. Engolimos a comida, não apreciamos a paisagem que nos acompanha o caminho, não escutamos, não nos escutamos, distanciando-nos de nós mesmos. Mascaramos com velocidade o sentido que não vislumbramos, colocando-o onde não existe. “Se não sabes onde vais, por que teimas em correr?” cantava Amália Rodrigues. Qual o sentido de tanta correria? Porquê esta exigência do imediato?

Se refletíssemos sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás… Condenamo-nos, de facto, ao esquecimento. Diz-nos Tolentino Mendonça: “Passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegaremos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso, veemente, efémero. Na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver.”

E depois… Parecemos crianças a exigir tudo e agora. Esquecemo-nos que nada se constrói, verdadeiramente, sem tempo, sem dar tempo ao tempo. Se o relógio é um dos nossos maiores tiranos, outro será, também, uma certa arrogância e prepotência: a de pensarmos que o mundo deve girar em torno de nós. O mundo não gira à nossa volta e só uma aprendizagem da arte de esperar nos permitirá chegar a bom porto. As sementes plantadas num dia não florescem no dia seguinte.

Necessitamos de uma lentidão que nos proteja das reações mecânicas, da precipitação. Aprendamos a esperar. Resgatemos a nossa relação com o tempo. Abrandemos pouco a pouco. Aprendamos a arte da lentidão e recuperemos o tempo perdido que pensávamos ganhar.